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Hoje um homem gritou pra mim na rua. Na Avenida Antônio Carlos, mais especificamente, em Belo Horizonte, no Brasil. Voltando da aula, por volta das 14 horas um homem passou de carro e gritou: “Ohh, gostosa!!”.

Um homem gritou pra mim na rua. Um completo desconhecido, enquanto suava debaixo do sol indo pra casa. Escutava música, estava distraída e com calor. Enquanto as gotas de suor acumulavam na minha testa um homem dentro de um carro gritou: “Ohh, gostosa!!”.

Estava na rua quando um homem gritou pra mim. Não consegui vê-lo, não consegui encará-lo. Quando entendi, já era tarde. Ele continuou normalmente o seu caminho depois de vociferar “Ohh, gostosa!!”.

Enquanto o grito ecoava na minha cabeça, comecei a pensar que era zoação. Eu não sou gostosa. Estava suada, vermelha. Ele estava rido da minha cara. Eu não me sinto gostosa. Continuei tentando entender. Pensei nos meus shorts. Depois de muito tempo e de passar muito calor, decidi ir de short para a faculdade. Nunca gostei de usar shorts. Não sou gostosa. Não tenho pernas ou bunda para usar short.

Um homem gritou pra mim. E aquele assédio disfarçado de elogio me fez lembrar da minha irmã. Ela tem 11 anos. Uma criança, que no próximo dia iria a um parque aquático com a escola. Mas o que era pra ser uma viagem divertida com amigos, está a incomodando desde que foi anunciada pela professora. Ela tem 11 anos e não quer usar biquíni. Ela não gosta do próprio corpo, ela é uma criança.

A princípio, o grito, o elogio, o assédio não tem nada a ver com a pressão estética. Mas analisando com mais cuidado, as duas coisas estão intrinsecamente ligadas. Na nossa sociedade, mulheres são só isso. Só devem ser bonitas, gostosas. Carnes que devem ser visivelmente atraentes. Só.

Quando voltava da faculdade um homem gritou pra mim. A música no meu fone de ouvido se misturou com a voz masculina gritando “Ohh, gostosa!!”. Mas eu não sou a carne que ele quer comer. Eu não sou carne. Espero que minha irmã também entenda isso. Somos anima.

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